Como pude? Briguei com Justin! Justo ele, de tantos pra eu brigar foi ele...
Chorei até dormir, ignorando as mensagens de Clary. Foda-se o que ela quer de mim: nunca vai ser pior do que a dor de brigar com ele.
A primeira aula se passou legal. Ninguém nos ignorou, e a conversa foi incessante. Então Clary chegou no segundo horário.
Era isso. Era culpa dela. Ela deu um jeito de, quando ela estava por lá, a atenção ser voltada toda pra ela.
Sua vaca.
Me dei um tapa mental. Ela que me fez chegar aonde estou. Só ignorei a raiva e a joguei pro fundo do meu coração.
Então, notei que Justin chegou depois dela.
Estava tão feliz que as pessoas tinham voltado à falar comigo, e depois com tanta raiva de Clary, que não notei que ele não estava sentado em minha diagonal novamente.
A manga ia até os pulsos. Entendo que o dia estava frio, mas isso era um exagero. Eu estava com um casaquinho fechado, mas ele ia até os cotovelos. Ele não podia estar com tanto frio...
"Eu te esquento" Cala boca.
O mais estranho foi que ele passou por nós - pela sala toda - sem falar com ninguém e de cabeça baixa, sentando na última cadeira do fundo. Alguns garotos tentaram falar com ele, mas ele simplesmente colocou os fones e ignorou todas as investidas dos colegas. E ignorou o professor o mandando tirar os fones. Parece que veio obrigado, dessa vez.
E a luz do sol me ajudou à ver que estava um pouco pálido. Será que ele não comeu essa noite?
Notei Rick o olhando, triste. Então, se levantou, deixando o professor de lado, e sentou na mesa do Justin. Ficou sentado até Justin desistir e tirar os fones. Não ouvi o que diziam, mas não ia atrapalhar: podia ser que Rick o ajudasse.
No intervalo, Justin saiu com Rick no encalço, ainda ignorando todos, e tentando despistar Rick, mas notei que ele não iria desistir tão fácil de ajudar o amigo.
Sten me parou no meio do caminho.
-O que houve com ele?
-Boa pergunta. Está estranho.
-Estava postando frases ontem no facebook.
-Frases? Que tipo?
Sten estendeu o iPhone e me mostrou uma:
Só existe dor quando você se importa. Por isso que dói tanto.-Nossa... - Então, pensei em ontem. - Oh D'us, não!
Corri atrás de Justin e Rick, que haviam virado faz tempo, e Sten veio atrás de mim. Ficamos procurando-os até eu ver uma sala, que deveria estar fechada, aberta. Olhei pelo vidro da porta, e notei Justin e Rick discutindo.
Rick me viu e abriu a porta pra mim. Justin calou a boca logo que entrei e virou de costas pra nós.
-Olha só, Bieber - Rick continuou. - Nós dissemos que sentimos muito. Não foi nossa culpa. Você tinha mais é que conversar com ela.
-Quem? - Sten perguntou, mas nós o ignoramos.
-Justin... - Tentei. - Me desculpe por ontem... mas Rick tem razão. Tem que resolver isso com ela.
-Ela vai negar. - Justin disse, ainda sem nos olhar. - Ela vai negar e conseguir me convencer de que vocês estão mentindo pra nos separar.
-Por que ela lhe convenceria disso? - Rick perguntou.
-Por que é ela. Ela sempre consegue me convencer de qualquer coisa...
-...
Justin se vira.
-Quando vocês amarem alguém, talvez vocês entendam isso. - Notei seus olhos inchados. Os meus começaram à ficar molhados.
Ele a ama. Não gosta, ele ama. Não diria isso assim deliberadamente, não o Justin que eu conheço.
-Vocês deveriam, no mínimo, me deixar só. Eu preciso de espaço.
Não aguentei isso. Foi o pior. Minhas lágrimas rolaram, e eu descontrolei-me.
-Você é idiota? - Gritei tudo. - Claro que pelo menos já amamos alguém. Eu amo! Sei como dói ver essa pessoa com outra. Não fale do que não sabe, Bieber. Pode magoar as pessoas sem saber! Eu... eu nunca deveria ter deixado Rick te contar, se soubesse que você ia virar as costas pros seus verdadeiros amigos, nunca! - Saí correndo da sala, e ouvi Sten atrás de mim. Antes de me afastar muito, ouvi Rick dizer pra Justin "está vendo só?", mas depois, nada.
Sentei no chão do pátio. O gramado estava de um verde maravilhoso com o sol batendo nele.
"Seria o lugar perfeito pra eu ficar com Justin..."
-Sua vaca. - Me xinguei e me dei um tapa literal, desta vez. Senti o ardor na bochecha, mas ignorei. As lágrimas rolavam sem parar, e abracei meu joelho, querendo me esconder.
Ouvi alguém sentar ao meu lado, e quase o mandei embora, não fosse a voz familiar.
-O que houve, Ale? Me diga, por favor.
-Oh, Sten... é horrível... mas não espalhe isso, por favor.
-Tudo bem, eu prometo.
Fungando, confessei:
-Caí por que vi Clary beijando Rick. Não ele, eu vi a Clary puxá-lo para um beijo... E eu e Rick contamos ontem pra ele... e aí ele chegou nesse estado hoje, ignorando todos nós e falando aquilo...
Sten me abraçou.
-Sei que machucou você... e à mim também, você sabe, ninguém é burro... mas não quero vê-la assim, Ale. Triste e chorando... o que posso fazer para sorrir de novo?
-Faz aquele idiota falar comigo. - Soltei, sem querer.
-Vou tentar. - Fiquei surpresa. Ele odiava Justin pelo fato de que eu o amava, e não à ele. Ele notou isso: - Acha que só por que a amo não a quero ver feliz? Mesmo que com outro garoto? Está bem enganada. - Ele sorriu.
-Obrigada, Sten... - Disse, e ele secou minhas lágrimas.
-Acho que não vamos voltar pra sala, vamos?
-Não.. não quero... mas vá, não se prejudique por minha causa.
-Não estou prejudicado, sei bem todas as matérias.
-Haha - Consegui rir, fraco. - Também, seu boletim é de dar inveja.
-Hey tirei notas baixas!
-Qual sua menor nota?
-Um vergonhoso 9.2.
-Ah, fala sério! Eu tiro 8.5 e fico feliz de não ser menor!
-Se eu tirasse 8.5, eu me matava!
-Idiota, hahaha.
-Olha só quem fala.
-Own, sou idiota?
-Bastaaaaante.
-Uhul.
Ficamos sentados até o fim da aula. Foi quando minha mochila parou ao meu lado, e a de Sten ao lado dele.
-Oi, vocês.
Olhei pra cima.
-Oi, Rick. Obrigada.
-Valeu, Rick. - Sten disse.
-Posso? - Ele perguntou.
-Claro.
Ele se sentou ao meu lado, abraçando o joelho.
-Sinto muito pelo que Justin disse. Eu deveria tê-lo impedido de abrir a boca.
-Não, tudo bem. - Menti.
-Mente muito mal, Ale.
Ai. Ai.. Justin disse a mesma coisa pra mim...
Antes que eu notasse, Rick enxugou outra lágrima minha.
-Disse algo errado?
-N-não.. é só que... Justin me disse a mesma coisa...
-Desculpe.
-Não pede desculpas, você não sabia.
Ouvi um grito lá atrás.
-Ei, sua vaca!
Céus. Virei pra ela, mesmo com o rosto vermelho de chorar, sorrindo. Só notei Rick e Sten a olhando com raiva, mas ignorei.
-Oi, Clary.. - Levantei.
-Ainda não entendi por que diabos você não falou comigo hoje, e nem por que me ignorou ontem.
-Não.. não estou bem...
-Vai numa porcaria de hospital, garota!
-Deixe-a em paz! Você é desumana, Clary! - Sten se levantou.
-Não falei com o nerd. - Rebateu. - Quero que me ligue às 21h.
-Ela não vai ligar.
-Ah, vai sim.
-Sten... - Tentei.
-Você não manda nela, idiota! - Me defendeu.
-Sten! - Ouvi Rick dizer.
-E ela não é seu bicho de estimação! Cuide do próprio corpo, que a única vaca aqui é você. Vá pastar!
Cobri a boca com as mãos. Rick me apoiava pra não cair.
-Sten... - Tentei de novo, mas saiu um sussurro.
-E mais: quando for rodar sua bolsa na esquina que nem ontem, tente não batê-la na cara de ninguém!
-Chega, Sten! - Ouvi e olhei pra trás de Clary, que estava pasma.
-Ah, e ainda chegou o "Romeu" idiota! - Ele vira pra mim. - Desculpa, Ale, mas mesmo depois... ele...
-Eu te entendo... - Falei baixo, fazendo Clary me olhar, questionando.
-Depois do que? - Ela perguntou.
-Nada. - Rick disse.
-De eu ver você anteontem, Clary. - Justin disse do nada, deixando todos nós surpresos.
Ela virou pra ele.
-Me viu anteontem? Como assim? - Perguntou tão inocentemente que quase acreditei que ela estava falando a verdade.
-Com Rick. Lá na frente.
-Justin... - Rick também não conseguiu falar alto.
Ele estava mentindo por nós dois. Mentindo pra nos livrar de Clary.
Mas quem ia se ferrar era ele.
-Rick? Não sei do que você está falando.
-Não precisa. Consegui uma prova.
Olhei-o surpresa, e Rick também.
-Prova de que? - Ela perguntou.
Ele pegou o celular e mostrou uma foto à ela, que ficou pálida e começou seu teatro, fingindo chorar.
-Mas... não fui eu, eu juro!
-Não minta pra mim, Clarissa! - Justin nunca a chamou assim, tanto que todos nós ficamos pasmos. - Eu sei tudo o que se passa na escola inteira desde antes de sermos amigos.
-J-Justin...
-Eu vi, tenho essa prova, e você ainda está tentando incriminar meu amigo Rick. Não consigo crer que...
-Justin... - Sussurrei.
-Que... o que? - Ela rolou suas falsas lágrimas pelo rosto.
-Que realmente pude amar uma idiota!
Dessa vez, Clary ficou surpresa de verdade..
-V-você... você me ama?
-É, Clarissa, eu te amo, e amo demais. Mas já vi que não recebo de volta esse amor. Vá ser feliz, como Sten terrivelmente disse, rodando sua bolsa. - E voltou pra dentro da escola.
-Justin! - Eu e Rick gritamos e saímos atrás dele. Só vi a cara de surpresa de Clary quando corri pra confortar ele, e não ela. Sten veio atrás.
Consegui vê-lo saindo da escola, parando de correr no meio do quarteirão. Corri mais um pouco, e quando cheguei perto dele, só andei. Quando ia tocar seu ombro, ele caiu de joelhos, segurando os pulsos. Notei suas lágrimas caindo no chão, e quis chorar com ele.
Ajoelhei-me ao seu lado e coloquei a mão em seu ombro.
-Por que você está chorando, Ale? - Ele perguntou, mesmo sem abrir os olhos.
-Não queria ter que vê-lo assim...
-Mesmo depois de eu ter te magoado hoje?
-...
-Me desculpe. Não... não sabia mesmo o que estava dizendo. Só estava com raiva... ainda estou...
-Eu entendo, Justin. - O abracei. - Só tome mais cuidado.
-Estou perdoado?
-Sim.
Ele me soltou pra poder ver meus olhos. Acho que era assim que descobria se eu estava mentindo.
Mas eu olhei outra coisa.
-Justin! - Puxei seu braço antes que ele me impedisse e levantei sua manga. - Meu D'us...
Haviam pelo menos 10 cicatrizes em cada pulso. Isso se não me enganei na média.
Ele os puxou de volta, cobrindo-os.
-Não ouse comentar sobre isso... - Ordenou.
-Mas...
-Não fale!
Outro acesso de raiva.
-Parabéns, Justin! Você consegue mesmo fazer seus amigos, que só estão preocupados com você, se afastarem! Consegue mesmo!
Levantei e saí andando, quase sentindo pena do chão com a força com que pisava. Sempre chorava com raiva, não de tristeza, mas de raiva mesmo. As lágrimas simplesmente vinham com a raiva, e eu não conseguia evitar.
Foi quando alguém puxou meu pulso e me virou.
-Desculpa. Desculpa, Ale, você tem razão, de verdade... eu só não aguento... por favor, me desculpa. - As lágrimas rolaram dos olhos dele também. Notei Rick e Sten parados no meio da calçada, descansando de tanto correr. Vi que Rick quem parou Sten, mas ignorei os dois.
-Não consigo ficar com raiva de você assim! Para de chorar, idiota! Quem tem que chorar nessa droga sou eu!
-Entendo que esteja chateada, mas por que você choraria?
Soltei-me dele com um empurrão.
-POR QUE EU TE AMO, SEU BURRO! NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE NUNCA NOTOU ISSO! VOCÊ É MESMO UM IDIOTA, JUSTIN DREW BIEBER, UM IDIOTA! - Voltei à correr, mas, dessa vez, tal pasmo estava, ele não me seguiu.
Cheguei em casa e corri pro quarto, sem almoçar ou dar satisfação à minha mãe. Tranquei meu quarto e me joguei na cama, chorando no travesseiro.
Acabei dormindo de tanto chorar, e notei meu celular vibrando no bolço. Peguei-o e vi quantas ligações perdi.
7 de Sten.
3 de Rick.
10 de Clary.
20 de Justin.
15 de minha mãe.
Joguei o celular na cama com força. Claro que não ia jogar no chão. Tomei um banho quente pra me acalmar e quando saí, finalmente olhei as horas. Ainda eram 17h, estava cedo, e eu estava morrendo de fome. Desci só de short e sutiã, com tanta raiva ainda que não ligaria se minha mãe reclamasse.
Entrei na cozinha e fiz um sanduíche de não-sei-o-que. Peguei qualquer coisa na geladeira e fiz, só sei que estava bom. A campainha tocou e minha mãe atendeu a porta. Não ouvi quem era, mas ela gritou pra me chamar.
-Alegria! Você tem visitas.
Gritei da cozinha.
-Seja quem for, made embora! Não quero ver ninguém.
-Nem mesmo Clary?
Oh céus. Clary sabia que eu estava acordada depois desse grito. O que eu diria?
Fingi que não ouvi e passei pro meu quarto. Foda-se, ia fingir que não era ninguém. Ela era quem eu menos queria ver.
Me joguei na cama com os fones em volume máximo. Com a luz apagada e a cortina fechada, parecia noite, e eu queria dormir.
Senti alguém sentar na minha cama. Não levantei a cabeça, nem tirei os fones. Essa pessoa o fez por mim.
Aí sim, levantei a cabeça pra ver quem foi o idiota que tirou meus fones.
E era Justin. Um Justin com olhos inchados e vermelhos, e, dessa vez, com a manga da camisa pra cima, sem medo de me mostrar que se cortou mais.
Mamãe entrou no quarto.
-Desculpe, Ale, ele não me deixou fechar a porta...
Falei em espanhol com ela.
-Tudo bem, deixa. Esse idiota vai sair daqui por bem ou por mal, mesmo que eu tenha que chutá-lo.
Ela ficou espantada, mas respondeu em espanhol também.
-Filha? Estamos falando da mesma pessoa?
-Sí, mama. Vá, por favor.
-Tudo bem... Te vejo depois, então. Aí você me explica sua rebeldia.
Virei pra Justin e voltei à falar em inglês.
-O que veio fazer aqui?
-Pedir desculpa de novo. E vou pedir mais milhões de vezes até sentir que estou perdoado de verdade.
-Não está perdoado! Você é um idiota!
-Bem, notei isso hoje. Já é a terceira surpresa que tenho.
-Quais as outras? E sério? Notou agora?
-É, sei. Sou um burro, idiota, imbecil, ignorante, babaca... - Bati em seu ombro. - Ai. Okay, eu mereci isso.
-Deveria ser na cara.
-Pode dar.
Sentei ao lado dele.
-Não vou bater na sua cara, idiota!
-Deveria...
-Surpresas...? - O forcei à continuar.
-Ah, sim... bem, além dessa... você fala espanhol...
-Meu pai era mexicano.
-Não sabia disso...
-Agora sabe.
-E...
-E...?
-Bem... eu... eu não fazia ideia... do que você disse hoje... eu...
-Ah, clássico. - Me irritei mais. - Foda-se, agora não quero mais nada!
-Ale...
-Não fala! Eu não to pra ficar com um idiota do meu lado!
-Eu sei que sou idiota. Eu deveria...
-... ter notado antes? Pois é, sabe, também acho! Mas você teve que esperar ser traído pra me magoar pra eu gritar no meio da rua! Sai do meu quarto, ou eu vou te chutar daqui!
-Ale... não faz isso comigo, por favor. - Ouvi que estava quase chorando... de novo.
-Sai, Justin... - Foi quase um sussurro. - Por favor... eu...
Ele tocou meu ombro, e logo puxou a mão, surpreso.
-Ale... - Notei, pela voz, que estava vermelho. - você tá só de lingerie?
Lembrei que estava só de short e sutiã. Corei na hora.
-N-não... m-mas estou sem camisa.
Ficamos calados um minuto depois disso. E então, ele quebrou o silêncio, ainda envergonhado.
-Éh... tem... tem uma pele macia...
Me remexi, desconfortável com o rumo.
-O-obrigada... eu acho...
-Ale... me desculpa por hoje. Eu não vou me perdoar por isso... nunca...
-Não devia mesmo...
Acho que estou sendo muito dura com ele. Senti sua tristeza piorar, e notei meu cobertor molhado. Eram suas lágrimas, caindo. Não dá pra aguentar assim.
-D-desculpa... estou sendo dura... eu deveria entender como você está se sentindo...
-Eu acho que você está certa. Eu fui muito idiota pra você ser legal comigo, agora.
-Não. Eu não sou rude com ninguém. Ninguém mesmo. Me desculpe. Mas ainda estou com raiva de você.
-Mereço. Mereço mesmo. Eu... - ele olhou pela janela fechada. Uma pequena brecha de luz se abriu com o vento da porta que minha mãe deixou encostada. Ele me olhou depois, e com a lua, vi seu rosto ainda vermelho. - Acho melhor eu ir... não quero te irritar mais...
Ele levantou. Não sei se esperava que eu dissesse mais alguma coisa, mas nada me veio à cabeça. Ele ia abrir a porta quando pulei e o abracei por trás.
-Justin... eu...
Ele virou e me abraçou de volta, me deixando afundar meu nariz em seu pescoço. Seu toque quente estava em minhas costas, e isso me fez sentir um arrepio na espinha. Não sei se ele lembra que não estou de blusa. Mas eu sim, e sei o quanto desejo esse toque.
-Me desculpa, Ale. - Sua boca roçava em minha testa, me deixando arrepiada.
-Está desculpado, Justin. Me desculpa?
-Você não tem do que se desculpar.
-Mas sinto que te magoei.
-Não magoou. Eu magoei você, e sinto muito por isso.
-Você está desculpado, Justin. Somos amigos, e pra isso que nós servimos. - Dói dizer "amigo" me referindo à ele, mas claro que não ia pedir nem obrigá-lo à nada.
-Obrigado. Obrigado mesmo. - Ele se afastou um pouco pra me olhar nos olhos, mesmo nesse escuro. Então olhou pra baixo. - Ah.. melhor eu ir mesmo.. vou deixar você à vontade...
Coloquei sua mão em minha costa. Eu estava quase agindo por impulso.
-Estou à vontade, assim. Você não está? - Nossas respirações estavam fortes.
-S-sim, mas... mas Ale... v-você...
-Deixa. - O cortei, não mais me sentindo horrível por isso, tal era minha raiva. - Quem liga? Tá escuro aqui. Você tá vendo alguma coisa?
-Ah... ah... n-não. - Mentiu.
-O que você vê?
-Nada...
-Não minta, Justin... por favor. - Pedi delicada.
-Ah. - Suspirou. - Vejo sua barriga...
-E...?
Ele baixou a cabeça, escondendo-se.
-Seus... seus seios.
Revirei os olhos.
Nossa! Estava com tanta raiva que não liguei realmente pra ele me ver sem blusa?
-Tá bom... vou colocar uma porcaria de uma...
-Se você não quer, não precisa. Só acho que...
-Que você não deveria ficar aqui comigo assim?
-É... contando... contando todos os acontecimentos...
Senti as lágrimas nos olhos.
-Sabe? Eu to mesmo pouco me fodendo pra Clary. - Falei sem pensar. - Ela não tem sido legal com a gente.
-Como assim? - Notei sua voz triste.
-Ela subornou todo o colégio pra nos ignorar! E pior: ela pagou pra a amarem mais. Ela e Rick. Ela nos quer fora da vida dela, Justin... isso tudo só por que... - Comecei à fungar.
-Por que?
-Por que Rick veio me abraçar quando a diretora falou do concurso... Ela ficou morrendo de ciume.
-N-não pode ter. Ela não... não tinha me traído desde esse dia... nem antes...
-Céus, Justin! - Tapei a boca. - Desculpe! Eu não deveria falar isso dela...
-Não... por favor, fale tudo o que sabe. Machuca muito, mas... mas eu preciso saber, eu quero!
-Eu... não quero...
-Por favor, Alegria. Por favor. - Ouvi cada palavra dita com dor, com a voz de choro, chorando junto. Abracei-o de novo, molhando sua camisa.
-Não quero te deixar triste....
-Já estou. Não precisa se preocupar. Pior que isso eu não fico.
-Só... só se prometer que não vai se cortar!
-Eu...
-Prometa, Justin!
Ele me olhou por longos cinco minutos. Já não aguentava mais esperar quando ele suspirou.
-Eu.. eu prometo, Ale. Com uma condição.
-Qual?
-Você tem que me prometer que vai contar tudo que se lembra.
-Prometo. Bem, faz dois meses que ela tem olhado muito pro Rick. Ela andava me falando no face o quão lindo ele é, e que é gostoso. Eu perguntava por que ela falava isso se estava com você, e ela dizia "eu to namorando, mas eu posso olhar, né" e me pedia pra calar a boca. - Justin mordeu o lábio. - Rick nunca olhou muito pra ela e ela queria ser amiga dele. Me disse que queria se aproximar. Quando ele foi me abraçar, e não à ela, acho que morreu de ciume e pagou todos pra me ignorarem. Meio que deve ter falado sobre você e Sten "acidentalmente" e dito "acidentalmente" pra amarem o Rick. - Ele estava de cabeça baixa.- Notei isso hoje, que todos falavam conosco antes dela chegar, pouco antes de você. E Rick se tornou mais amado de novo. Bem... Clary... fez aquilo com você à dois dias, né... e eu passei mal e tal, por causa da surpresa. - Já havia notado o brilho de suas lágrimas com o reflexo da lua, mas continuei por que prometi. - Bem, eu vi a cena de camarote. Aconteceu que o Rick tava esperando a gente e ela chegou nele já se arranhando no corpo dele, e ele tentava se afastar mas ela não deixava, aí ela beijou ele, mas ele tentou empurrá-la antes de ceder... E é isso.
Ele ficou calado. Já esperava isso dele, por isso puxei sua mão e o fiz sentar na cama pra se acalmar, ficando em pé ao lado dele, com medo dele cair, então o seguraria nesse caso. Mas ele quebrou o silêncio depois, se levantando e limpando suas lágrimas.
-Obrigado por me falar, Ale... Eu... não fazia ideia disso.
Lembrei de uma coisa e mordi o lábio.
-O que foi? - Perguntou.
Arg, eu prometi...
-Eu... me lembrei... de outra coisa...
-O que?
-Eu... - Comecei à chorar. - P-prefiro mostrar... não quero falar disso.
-Tudo bem...
Entrei no meu face e subi minha conversa com Clary, deixando o chat ofline pra ela não saber que estava lá. Subi muito, muito mesmo até chegar em uma foto, então soube que estava perto de onde queria. Subi mais um pouco e... PIMBA. Aqui estava.
-Aqui... desça um pouco até a foto.
Ele sentou na minha cadeira e leu a conversa. Não havia terminado de ler quando baixou a cabeça.
-Não aguento ler isso.
-Eu prometi que ia te falar...
Ele deixou a cabeça baixa mais uns segundos, então levantou-a e continuou lendo.
Quando viu a foto, se deixou cair no chão.
-Essa... essa puta... - Chorou. - ela... vem fazendo isso quanto tempo?
-Sete meses, mais ou menos.
-E você sabia?
Também caí chorando.
-Ela me disse depois que você sabia, que tinha deixado por que era pela carreira dela. Sabe que eu acreditava em tudo que ela dizia!
-... Pra quantos garotos ela mandou essas fotos?
-7 sites com pelo menos 15 mil assinaturas.
-Sabe algum deles?
Pensei por um minuto.
-Dois deles.
-Quero ver, por favor.
-Tem certeza?
-Sim.
Levantei e sentei na frente do computador. Abri mais duas guias e digitei os nomes dos sites.
-Ela tem um local de armazenamento só pra ela nos dois sites. Só as melhores tem isso, e tem muitos comentários.
-Mostre-me. - Sua voz estava neutra. Não consegui distinguir nada.
Cliquei nos links com o nome de Clary. Várias fotos apareceram com pelo menos 3000 comentários.
Justin os olhou, não as fotos, os comentários. A raiva subia por seu rosto. Fiz massagem em seus ombros, não me importando com nada.
Ele baixou a cabeça com amão na testa depois de ver todos os comentários de UMA das fotos. Entrou no meu face e mandou os links pra ele mesmo por chat.
-Vou ver melhor lá em casa... mas não...
-Não vá agora. Eu sei. Não vai aguentar.
-Não. E eu prometi que não ia mais me cortar hoje...
-Nunca mais. - O cortei.
-Ok, nunca mais, desculpe. Mas não vou conseguir se alguém não me controlar.
Não exitei em meu pensamento.
-Durma aqui. - Soltei.
Ele me olhou.
-Como?
-Não deixarei você se cortar se dormir aqui. Só dormirei depois de você.
-Mas Ale...
-Por favor, aceite. É para o seu bem!
-Eu não sei...
-Vou falar com a minha mãe, ok?
-Ah...
-E depois, você fala com a sua.
Não esperei uma resposta, abri a porta do quarto e desci.
-Mãe?
-Na sala, querida.
Fui até lá.
-Mãe, preciso muuuito de um favor.
-Diga. - Então ela me olha e fica espantada. - Alegria! Você e Justin estão no quarto e você está vestida assim?
-Nenhum de nós reparou, mas mãe, é importante.
-Alegria...
-Muito.
-Ah, tá bom. O que é?
-Mãe, o Justin me prometeu que não ia mais se cortar...
-Isso é bom, não?
-Sim, mas... mas ele não vai aguentar. Deixa ele dormir aqui hoje pra eu segurar ele, por favor?
-Alegria, você está muito abusada...
-Por favor, mãe. É pelo bem dele...
-Eu não posso deixar você fazer isso, Ale. Veja como você está vestida, e o que está me pedindo!
Baixei a cabeça.
-Eu só quero protegê-lo...
-Ale...
Eu já cochichava, chorando.
-Ele é o garoto que amo, mãe. Não posso perdê-lo por causa que ele se corta. Por favor, me entende. Já perdi o papai... não quero perder o Justin também...
A essa altura, ela chorava comigo.
-Oh, querida... eu...
-Deixe, mamãe, por favor. Eu quero muito protegê-lo de si mesmo.
-Eu... tudo bem, mas com condições.
-Diga.
-Porta aberta. Quero poder vê-los cada vez que passar no corredor. E quero uma fresta da janela aberta pra entrar luz.
Sorri e a abracei forte.
-Obrigada, mãe. Obrigada, obrigada e obrigada!
-Por nada, querida. - Ela me olhou nos olhos. - Agora vá lá e lute por seu homem. - Então olhou pro meu corpo e franziu o cenho. - Mas, de preferência, com uma camisa.
Ri e concordei. Quando subi, Justin estava deitado no chão com o braço cobrindo os olhos.
-Jus..?
-Oi?
-Ela deixou.
Ele sentou, devagar.
-Na boa? Deixou mesmo? - Ouvi sua ansiedade e acabei sorrindo.
-Sim. Ligue pra sua mãe.
-Tudo bem. - Ele pegou o celular e ligou. - Mãe? É, vou dormir fora hoje...
Fui para o closet para não ouvir sua conversa e aproveitei e peguei uma blusa qualquer, vestindo-a. Não sabia qual era, ainda estava escuro.
Quando voltei, ele estava sentado abraçando os joelhos.
-E aí? - Perguntei.
-Ela vai trazer uma muda de roupas... Ale? - Ele levantou, vindo até mim.
-Sim?
-Obrigado. - Me abraçou. Retribuí o abraço, esperando que ele não sentisse meu coração acelerado.
Oiiiiiiiiii. Gostaraaaam?? Acchei meio fortinho, mas fazer o que, heuheuehuehe comenteeeeem!!!!!!
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